Passar a usar coentros* para, por exemplo, finalizar um arrozinho é, tenho para mim, um ponto de viragem na vida de uma pessoa.
*frescos
Deixo-vos isto sem mais, que eu tenho de me ir refazer do choque.
"Há um outro tipo, mais comum do que se pensa, que é aquele que foi denunciado pelo irmão, normalmente a uma mesa de jantar. Penso que as pessoas sem irmãos não sabem verdadeiramente o que é viver num permanente estado de perigo de todo o tipo de denúncias, contendo ou não verdade, a que uma pessoa está sujeita durante a infância e adolescência. Do equilíbrio instável que é necessário gerir alternando entre a informação preciosa, a ameaça e a diplomacia. No fundo, acho que os filhos únicos não conhecem o cinismo."
Vou passar a falar em trilogia. A partir de agora todo o meu discurso terá três pontos. O Paulo Portas faz isto há anos e parece gostar. Não esperem de mim três questões para colocar ao senhor primeiro-ministro a propósito da atitude de outro ministro que não o primeiro mas alguma coisa se há-de arranjar.
Destaco aqui a entrada e parte do prato principal.
A entrada porque já todos pensámos derreter queijo e comê-lo assim, à colherada. Poucos de nós o fizeram efectivamente mas vale bem a pena. O desempate entre o queijo com orégãos e queijo com tomate foi feito por um as pessoas-têm-ideia-que-é-mais-enjoativo-mas-eu-pessoalmente-gosto-mais. E até eu, agora, sem ter provado o outro, posso dizer que, pessoalmente, também gosto mais. Por mim jantava aquilo.
A parte do prato principal de que falava não é, mas podia muito bem ser, o bife. Podia ser, não fosse eu uma especialista em acompanhamentos. Uma das poucas pessoas do mundo que pode afirmar, sem rodeios, que o melhor de uma caldeirada, assim para dar um exemplo, são as batatinhas às rodelas, naquele ponto em que a colher de servir não as desfaz mas uma pressão bem aplicada de um garfo as transforma rapidamente em puré, quiséssemos nós. E não queremos, já agora. Então a parte do prato: o acompanhamento - uma generosa batata para comer com colher, assada no forno e com uma noz de manteiga a derreter no prato.
Ir para as sobremesas é um crime. Haja fome e ataquem-se as entradas. Mesmo que no fim.
Fui ao sapateado (a pessoa diz fui ao ballet, fui à ópera mas não diz, tradicionalmente, fui ao sapateado - vanguardista que sou, aqui fica o meu fui ao sapateado). Ninguém me falou disto a não ser um senhor num anúncio de televisão. Anúncio este tão bom que me fez esquecer a irritação que o anúncio radiofónico me fazia, e ainda faz, agora que penso nisso, sentir.
Gostei muito, devo dizer. Imaginei, a priori, que havia de gostar dos momentos em que aquela meia dúzia batesse os pezinhos em uníssono. E gostei. Mas o engraçado da coisa é que tudo parecia espontâneo e improvisado. Assim coisa de rua. Até as roupas que vestiam pareciam tiradas do guarda-roupa deles, escolhida ao acaso para um vou ali à rua e já volto. Engano. Tudo pensado ao detalhe para ser perfeito. Perfeito e muito original. Com bolas de basquete, rebarbadoras, baldes de água e andaimes. E sapateado no tecto.
Porque sou uma pessoa que respeita os mais velhos, vou responder à tal da corrente:
Assim de repente diria:
1. Arreliar - É para mim incompreensível o uso de palavras como chatear, aborrecer, ou mesmo, incomodar quando a palavra arreliar está disponível.
2. Procrastinar - Porque foi preciso chegar aos 25 para conhecer esta palavra que tanto me diz (e que, já agora, raras vezes consigo reproduzir em termos sonoros sem lhe acrescentar um r aqui ou ali).
3. Bochecha - Substantivo, não. Adjectivo, sim. E riquíssimo.
4. Parolo - Nenhum outro insulto retira mais dignidade à pessoa que o profere.
5. Brócolo - Assim, no singular.
6. Cruel - Pelo som. Até uma criança de 3 anos percebe que dali não vem coisa boa.
7. Sapatilha - A prova irrefutável, caso necessidade de provas houvesse, de que sou uma pessoa de forte personalidade. Sete anos, pelo menos, a ouvir correcções, risadinhas e a necessitar de tradutor cada vez que, estoicamente, a ouso dizer.
8. Sujeito - Nada é mais hilariante do que ouvir alguém dizer "o sujeito" para se referir alguém. É. Tenho um humor especial.
9. Espreguiçadeira - ...
10. Psique - Prestasse-se o meu quotidiano a isso, e eu dizia psique o dia todo. Psique, psique, psique, psique.
11. Pândega - em simultâneo com pagode.
12. Crepúsculo - Cre-pús-cu-lo. Lindo.
Cansativo que isto foi. Passo esta coisa à metade lá de casa, à sujeita AB, ao Ressio na Rua da Botesga, à AFC e, claro, à minha antiga companheira de blog, lá para as bandas do hermético.